Eu não me tornei artista, eu nasci artista e adquiri segurança aos 40 anos para assumir o fato. Para mim, tudo em volta é simplesmente arte. Relações humanas, o vento, a planta, as águas, o sol, os pensamentos, e tudo mais que existe é arte.
Arte é uma forma de nos relacionarmos com a vida, de aprendermos sobre ela e de devolvermos os conteúdos que aprendemos para nos conectar com outras pessoas. Arte é linguagem.
Escreva poemas, crie histórias, desenhe, pinte, modele alguma forma. Não é justamente isso que fazemos o tempo todo?
Ouso afirmar que somos todos artistas. Cada um criando ao seu próprio modo, a grande maioria inconsciente, vaga na vida tentando descobrir a própria identidade. Poucos são conscientes da própria força criativa, para o bem ou para o mal.
Não considero que minha memória seja prodigiosa, no entanto, acesso algumas memórias muito antigas. Nasci em Congonhas, Minhas Gerais, posso lembrar de acontecimentos que vivi aos 3 anos e esquecer o que acabei de comer. Me lembro do primeiro concurso de desenho que participei na escola e como desejei ganhar, ou do cheiro da massinha que eu usava para esculpir dedos no pré-primário. Também me lembro como eu amava ouvir e criar histórias, especialmente com ursinhos. Eu era capaz de passar horas e horas comigo mesma, criando contos e fantasias no “pastinho” da casa da vó Tereza.
Aos 8 ou 9 anos eu escrevi um livro. Era a história de uma família de ursos que vivia no quintal da vô. Toda trama daquela família comilona e amorosa se desenrolou em um caderno escolar de 10 matérias, escrito à mão.
Aliás, eu tinha vários cadernos. Em alguns eu desenhava.
Hoje eu percebo e posso compartilhar que, ir para o mundo das ideias, onde tudo era possível e criar era tão prazeroso, foi minha fuga durante uma vida toda. Foi minha defesa, o único modo que intuitivamente eu descobri ainda criança, para passar por desafios de uma família complicada. Fechei as contas com o passado, hoje eu entendo que tudo que me aconteceu, me tornou quem essa Glaucia Policarpo. Hoje eu quero compartilhar sementes e fazer jus ao meu nome. para gerar muitos